A tokenização de ações é candidata a se tornar uma das próximas grandes ondas do mercado financeiro porque ataca, de frente, três fricções históricas do mercado de capitais: liquidez, acesso e custo operacional. O ponto decisivo não é “se” a tecnologia funciona, e sim “como” lastro, custódia, governança e regulação serão estruturados para sustentar valor real.
A discussão sobre ações tokenizadas deixou de ser apenas um debate tecnológico e passou a ser um tema de arquitetura de mercado. Em termos práticos, estamos falando de como empresas podem captar recursos com mais flexibilidade e como investidores podem acessar participações econômicas com mais eficiência.
O interesse institucional cresce justamente porque o modelo promete ganhos de mercado em escala, mas exige um pilar inegociável: segurança jurídica. Sem clareza sobre a natureza do token, os direitos do investidor e a forma de custódia, a liquidez “prometida” vira risco.
Por isso, o que separa uma onda sustentável de um ciclo especulativo é infraestrutura. A tokenização de ações só vira mercado quando existe governança, compliance, rastreabilidade e processos de liquidação compatíveis com exigências regulatórias.
Por Bruno Leite — Especialista em Ativos Judiciais e Sócio da L4 Core.
A expectativa em crescimento: por que tantos olhos se voltam para ações digitais
O mercado observa ações tokenizadas porque elas prometem resolver gargalos do modelo tradicional: acesso limitado, custos de backoffice altos, janelas de negociação e fricções de liquidação. O conceito é simples: transformar a “participação” em uma representação digital negociável, programável e rastreável.
Em muitos modelos, o token busca representar economicamente uma ação real; em outros, ele oferece exposição indireta via estruturas de lastro alternativas (por exemplo, veículos dedicados). Essa diferença é crucial para o valuation e para o risco.
A consequência é direta: quando há padronização de lastro e governança, o mercado tende a reduzir o desconto por opacidade. Quando não há, o mercado adiciona prêmio de risco e limita a adoção institucional.
Entendendo o interesse: o que significa tokenização de ações na prática
Tokenização de ações é a conversão (ou representação) digital de ações ordinárias ou preferenciais em tokens registrados em infraestrutura blockchain, com regras de emissão, custódia, compliance e eventos corporativos definidas desde o desenho do produto.
Diferente da negociação tradicional em bolsa, o ativo digital pode operar em ambientes digitais customizados, com regras programáveis de negociação, restrições de elegibilidade, governança e rastreabilidade. O ganho não está apenas na “velocidade”, mas na redução de falhas operacionais e na previsibilidade do ciclo de vida do ativo.
A promessa central: liquidez e acesso amplo para ativos corporativos
A principal promessa do modelo é a liquidez: fracionamento e negociação com menor atrito. No mercado tradicional, a liquidez é um atributo caro; ela depende de infraestrutura, participantes, regras e confiança. Em tokenização, o objetivo é reduzir custo transacional e ampliar acesso, sem abrir mão de compliance.
Além disso, a tokenização permite programar governança (direitos e restrições), distribuição de proventos e rastreabilidade de eventos. Quando bem implementado, isso reduz custo de auditoria, retrabalho e dependência de múltiplos intermediários operacionais.
A ação tokenizada só vira “ativo de mercado” quando o investidor entende claramente o que está comprando: se é participação acionária real, exposição econômica indireta ou um produto híbrido. Valor e liquidez nascem da clareza — e a clareza nasce do desenho jurídico e operacional.
— Bruno Leite, L4 Core
Ganhos reais: O impacto para diferentes players
A tokenização de ações pode criar ganhos para emissores e investidores, mas esses ganhos variam conforme o desenho do produto, o grau de lastro, a governança e o ambiente regulatório.
Para empresas: Captação alternativa e governança programável
Empresas (inclusive não listadas) enxergam na tokenização uma rota alternativa para captação, com potencial de reduzir fricção de distribuição e automatizar processos que hoje dependem de backoffice pesado.
- Emissão com maior flexibilidade e potencial redução de custo operacional;
- Regras de liquidez programadas (quando aplicável);
- Automação por smart contracts para eventos e rotinas;
- Rastreabilidade e auditoria com menor atrito;
- Ampliação potencial de base de investidores (conforme elegibilidade).
Para investidores: Diversificação e novos acessos
Do lado do investidor, o benefício pode ser acesso a emissões e estruturas antes restritas, além de flexibilidade de negociação quando existir mercado secundário funcional.
- Acesso a mais emissores e teses;
- Fracionamento e tickets menores (quando permitido);
- Rastreabilidade e transparência operacional;
- Menor custo transacional em alguns modelos;
- Possibilidade de negociação mais contínua, quando houver liquidez.
Alerta L4 Core – o risco mais ignorado em ações tokenizadas
- Nem todo “token de ação” é ação: pode ser exposição indireta, e isso muda o risco;
- Sem lastro e custódia auditáveis, o token pode perder aderência econômica ao ativo;
- Regulação, elegibilidade e KYC/AML definem se o produto escala ou trava.
Comparativo: ação tradicional vs ação tokenizada
| Critério | Ação tradicional | Ação tokenizada |
|---|---|---|
| Negociação | Regras e janelas da bolsa | Potencial de ambientes digitais e regras programáveis |
| Liquidez | Alta em ações líquidas; baixa em mercados privados | Depende do mercado secundário, lastro e adesão de participantes |
| Custódia | Infraestrutura tradicional | Exige desenho robusto de custódia e controles de chave/registro |
| Transparência operacional | Relatórios e intermediários | Rastreabilidade maior quando há registro on-chain e auditoria |
| Risco jurídico | Bem definido | Variável: depende do modelo (equity real vs exposição indireta) |
Superando os obstáculos: os pontos críticos para a ação tokenizada decolar
Apesar do potencial, a tokenização de ações ainda enfrenta desafios de escala. O principal é alinhar inovação com conformidade: regras claras, proteção ao investidor e padronização operacional.
O desafio não é só técnico. É de confiança. Sem confiança institucional, não há mercado profundo. E sem mercado profundo, não há liquidez consistente.
O vazio regulatório e a busca por regras claras
A tokenização de ações exige diretrizes específicas sobre emissão, negociação, custódia, elegibilidade e divulgação. Em ambientes onde a regulação ainda não está madura, os emissores tendem a adiar iniciativas, e investidores institucionais tendem a esperar.
No Brasil, iniciativas de ambiente experimental e discussões sobre enquadramento de tokens como valores mobiliários ajudam a organizar o terreno, mas a evolução depende de diálogo contínuo entre mercado e reguladores.
A complexidade da infraestrutura: como garantir segurança e rastreabilidade
A infraestrutura para tokenizar ações vai além de emitir tokens. Ela precisa unir compliance (KYC/AML), custódia, governança, trilhas de auditoria, gestão de eventos corporativos e integração com fluxos financeiros. É isso que diferencia “prova de conceito” de mercado operacional.
Sem esses pilares, surgem distorções: diferença entre preço do token e do ativo, falhas de liquidação, risco de custódia e incerteza sobre direitos econômicos e políticos.
O diálogo contínuo: mercado e reguladores moldando o futuro
A adoção em massa depende de maturidade regulatória e de soluções tecnicamente robustas. Sandboxes, autorregulação e testes supervisionados são instrumentos naturais dessa transição.
O mercado que liderar será aquele que apresentar modelos replicáveis, auditáveis e compatíveis com o nível de governança exigido por capital institucional.
Estudos de Caso L4 Core – Exemplos práticos
Estudo de Caso 1 – Emissão tokenizada para captação controlada
- Contexto: Empresa em crescimento busca captação sem caminho tradicional imediato de bolsa;
- Desafio: Viabilizar acesso a investidores elegíveis com governança e previsibilidade;
- Diagnóstico L4 Core: Produto precisa de regras claras de elegibilidade, custódia e eventos corporativos;
- Plano de ação: Estruturar governança do token, compliance, custódia e trilha de auditoria;
- Resultado: Captação com desenho mais eficiente e redução de risco operacional percebido.
Estudo de Caso 2 – Mercado secundário e o desafio da liquidez real
- Contexto: Ativo tokenizado com base de investidores pulverizada;
- Desafio: Criar liquidez consistente sem distorção de preço e sem fragilizar compliance;
- Diagnóstico L4 Core: Liquidez depende de market design, governança e regras de negociação;
- Plano de ação: Definir janelas, critérios de elegibilidade, transparência e mecanismos de formação de preço;
- Resultado: Redução de volatilidade artificial e melhora na aderência do preço ao valor econômico.
Estudo de Caso 3 – Token “parecido com ação” e risco de expectativa
- Contexto: Produto promete exposição a empresas, mas com estrutura de lastro indireto;
- Desafio: Evitar ruído de comunicação e risco jurídico por desalinhamento de expectativas;
- Diagnóstico L4 Core: A clareza do direito econômico é parte do valuation e da proteção do investidor;
- Plano de ação: Padronizar disclosure, governança e trilhas de auditoria; reforçar transparência contratual;
- Resultado: Redução de risco reputacional e aumento da confiança do investidor elegível.
FAQ – principais dúvidas sobre tokenização de ações
A ação tokenizada é sempre uma ação “de verdade”?
Não necessariamente. Dependendo do modelo, o token pode representar participação acionária real ou apenas exposição econômica indireta, e isso altera o risco e o valuation.
Tokenização garante liquidez 24/7?
Não. O 24/7 é uma capacidade técnica, mas a liquidez real depende de mercado secundário, participantes, governança e compatibilidade regulatória.
O investidor recebe dividendos automaticamente?
Pode receber, desde que o produto seja estruturado com regras claras e mecanismos programáveis para eventos corporativos, respeitando o desenho jurídico do ativo.
Quais são os maiores riscos para o investidor?
Risco de lastro (o que o token realmente representa), risco de custódia, risco regulatório e risco de liquidez (não conseguir vender quando quiser).
Por que instituições olham com mais cautela?
Porque capital institucional exige previsibilidade jurídica, trilhas de auditoria, governança e controles de compliance consistentes antes de escalar alocação.
No Brasil isso já é possível?
Há iniciativas e evoluções regulatórias, mas a viabilidade depende do enquadramento do produto, do desenho jurídico e da autorização/estrutura aplicável ao caso.
O que define se esse mercado vira “a próxima onda”?
A combinação de regulação clara, infraestrutura de custódia e governança, e produtos com lastro e disclosure transparentes o suficiente para atrair liquidez institucional.
Como a L4 Core pode apoiar seus investimentos
A L4 Core atua como plataforma estratégica para estruturação, oferta e distribuição de ativos judiciais tokenizados, conectando investidores e empresários a oportunidades seguras e organizadas.
Para investidores
- Investimentos disponíveis em ativos judiciais (precatórios e RPVs) tokenizados;
- Estrutura com governança e transparência para análise e tomada de decisão;
- Oportunidades organizadas para diversificação com foco em previsibilidade.
Para empresários
- Possibilidade de disponibilizar ativos judiciais tokenizados para inclusão na plataforma de investimentos da L4 Core;
- Organização do ativo para distribuição a investidores elegíveis, com foco em governança e liquidez;
- Estruturação orientada a previsibilidade jurídica e eficiência operacional.
Prepare-se para a próxima onda com governança e clareza
Se a tokenização de ações vai liderar a próxima grande onda, o diferencial será infraestrutura, lastro e compliance. Estruture com previsibilidade e visão de mercado.

