O rombo de R$ 1,1 bilhão no Grupo Mateus expôs uma combinação perigosa de erro contábil, falhas de controle interno e fraudes operacionais que passaram despercebidas por anos — um alerta crítico para toda empresa que cresce rápido sem fortalecer seus mecanismos de governança.
O caso, que derrubou o valor de mercado da companhia em mais de R$ 2 bilhões em poucos dias, revelou que o estoque estava superavaliado devido a erros no cálculo do custo médio das mercadorias vendidas. Somado a perdas operacionais e furtos internos, o impacto colocou a gestão do grupo sob forte escrutínio do mercado, reguladores e auditores.
Por Thiago Leite — Especialista em Inteligência Tributária e Sócio da L4 Taxx.
O rombo de R$ 1,1 bilhão: o que realmente aconteceu
Em novembro de 2025, o Grupo Mateus divulgou a reavaliação de seus estoques, identificando um erro acumulado de R$ 1,1 bilhão no custo médio. A empresa acreditava possuir R$ 6 bilhões em mercadorias, quando na verdade detinha apenas R$ 4,9 bilhões.
O comunicado fez o mercado reagir imediatamente: a ação caiu cerca de 20% em cinco dias, eliminando mais de R$ 2 bilhões de valor de mercado.
Uma investigação interna revelou que o problema não era novo: desde 2021 a auditoria já alertava para deficiências nos controles de estoque, mas as medidas corretivas não avançaram na velocidade necessária.
O histórico de alertas ignorados
Em 2021, um relatório da Grant Thornton apontou 42 deficiências moderadas nos controles internos do Grupo Mateus, incluindo:
- Ausência de acompanhamento adequado do custo histórico dos estoques;
- Deficiências na rastreabilidade de entradas e saídas de mercadorias;
- Fragilidades na governança de inventário físico.
Apesar de constarem nos formulários enviados à CVM em 2020 e 2021, essas deficiências desapareceram das divulgações a partir de 2022 — substituídas por declarações genéricas de ausência de problemas significativos.
O ponto crítico: mesmo após trocar de auditoria em 2025 — entrando a Forvis Mazars — o problema foi identificado internamente, mas divulgado tardiamente ao mercado.
Perdas operacionais e fraudes internas agravaram o cenário
No processo de revisão, a empresa detectou perdas operacionais elevadas, furtos internos e falhas estruturais no inventário físico. Exemplos citados pela diretoria incluíram:
- Funcionários registrando produtos caros com códigos de itens baratos;
- Mercadorias desaparecendo em áreas de descarregamento e estoque;
- Lojas que nunca haviam sido inventariadas desde a abertura.
Inventários trimestrais e por amostragem não acompanharam a velocidade de expansão da rede, comprometendo a acurácia dos saldos contábeis.
Análise técnica — Thiago Leite
“Quando uma empresa cresce mais rápido do que sua capacidade de controlar processos, o risco deixa de ser operacional e se torna estratégico.
Erros de custo médio, falhas de inventário e ausência de reconciliações robustas corroem margem, distorcem balanços e podem gerar contingências tributárias relevantes.”
“Casos como esse mostram que governança, contabilidade e compliance tributário não são áreas isoladas — são pilares do valor econômico e da confiança do mercado.”
— Thiago Leite, L4 Taxx
Como erros contábeis e tributários se conectam
Muito além do impacto financeiro, problemas de estoque afetam diretamente obrigações tributárias como:
- PIS/Cofins — crédito tomado incorretamente;
- ICMS — base de cálculo sobre entradas e saídas divergentes;
- IRPJ e CSLL — lucro distorcido por custo médio incorreto;
- SPEDs (EFD ICMS/IPI, ECD, ECF) — inconsistências entre fiscal e contábil.
Falhas na contabilização de bonificações também são críticas: quando registradas de forma incorreta, reduzem artificialmente o custo médio e inflacionam o estoque ao longo dos anos.
Quadro-resumo do caso
| Aspecto | O que ocorreu |
|---|---|
| Erro contábil | Superavaliação de estoque em R$ 1,1 bilhão por falha no custo médio |
| Fraudes internas | Furtos, desvio de produtos, manipulação de códigos |
| Auditoria | Alertas ignorados desde 2021; ausência de transparência em 2024 |
| Impacto no mercado | Queda de 20% nas ações e perda de R$ 2 bi em valor de mercado |
| Governança | Falta de inventário contínuo, baixa rastreabilidade e controles frágeis |
FAQ — principais dúvidas sobre riscos contábeis, fiscais e de governança
Como um erro de custo médio pode gerar impacto bilionário?
Falhas acumuladas em entradas, saídas e tributação embutida criam distorções exponenciais no estoque ao longo dos anos.
Por que auditorias não detectaram o problema a tempo?
Auditorias apontaram deficiências, mas a correção depende da empresa. Mudanças de auditor podem dificultar a continuidade do monitoramento.
Fraudes internas podem realmente gerar perdas tão elevadas?
Sim. Sem rastreabilidade e inventário regular, furtos e manipulações de códigos se tornam praticamente invisíveis.
Erros contábeis podem gerar problemas tributários?
Sim — e graves. Estoque incorreto altera lucro, créditos e bases de cálculo.
Por que o mercado reagiu tão negativamente?
Por causa da combinação entre o valor do rombo e a percepção de falta de transparência.
Como evitar que algo assim aconteça?
Com governança robusta, sistemas integrados, inventário contínuo e reconciliação contábil-fiscal.
Erros como esse podem afetar empresas de qualquer porte?
Sim. Empresas que crescem rápido sem fortalecer controles são ainda mais vulneráveis.
Como a L4 Taxx pode apoiar sua empresa
A L4 Taxx atua no cruzamento entre governança, contabilidade e estratégia tributária, oferecendo análises profundas e soluções de risco corporativo.
Revisão e controle de estoques
- Reconciliação contábil e fiscal de produtos e mercadorias;
- Análise de custo médio e impacto tributário;
- Modelagem e auditoria de inventários.
Diagnóstico de riscos tributários ocultos
- Revisão de PIS/Cofins, ICMS e bonificações;
- Mapeamento de créditos e distorções no estoque;
- Correção de inconsistências em SPEDs.
Governança e compliance contábil
- Fortalecimento de processos internos;
- Mapeamento de riscos operacionais;
- Implementação de boas práticas de controle interno.
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