Transparência Tributária: a Reforma promete revelar ao contribuinte aquilo que sempre ficou oculto no “subtexto” — o verdadeiro peso dos impostos no preço final.
A EC 132/2023 elevou a transparência a pilar do novo sistema tributário. A partir dela, tributos sobre consumo precisam ser visíveis, claros, identificáveis. O contribuinte deve saber o quanto paga — e por que paga. Mas a transição para o novo modelo convive com riscos de retrocesso, especialmente nas discussões sobre “cálculo por dentro” e inclusão de tributo em bases de outros tributos.
O debate literário-forense fica evidente quando lembramos da “teoria do iceberg” de Hemingway: aquilo que não é dito pesa mais que o texto aparente. Na tributação brasileira, o problema sempre foi exatamente esse: o que o consumidor vê não é o que ele paga.
Por Thiago Leite — Especialista em Inteligência Tributária e Sócio da L4 Taxx.
Transparência e o problema histórico do “subtexto tributário”
O conto de Hemingway, “The End of Something”, usa uma cidade abandonada para revelar sentimentos escondidos. No Brasil, a estrutura tributária funciona de forma semelhante: o que está escondido é mais determinante que o texto oficial.
Foi essa falta de clareza que motivou a Lei 12.741/2012, exigindo o “valor aproximado” dos tributos na nota fiscal. O problema é justamente esse: aproximado — nunca exato.
Se tributo é preço, por que não dizer quanto ele custa?
A resposta: porque o sistema brasileiro sempre operou com múltiplos tributos, bases sobrepostas e a nefasta técnica do cálculo “por dentro”, que transforma um imposto de 18% em uma carga efetiva de 21,95%. O tributo vira subtexto — e o contribuinte, leitor de um texto incompleto.
O que muda com a Reforma Tributária do Consumo
A EC 132/2023 fixa a transparência como princípio estruturante. A LC 124/2025 reforça esse compromisso ao determinar que IBS e CBS sejam calculados por fora, com destaque claro, identificável e verificável.
A lógica é simples: preço é uma coisa; tributo é outra. E o contribuinte tem o direito de ver cada uma separadamente.
Mas o desafio é imenso — e há riscos reais de manter a opacidade que marcou o sistema atual.
Análise técnica – Thiago Leite
“A transparência tributária não é estética — é controle social. Tributo destacado é tributo visível. E tributo visível é tributo fiscalizável. Quando o imposto se esconde dentro do preço, o contribuinte perde poder real de avaliação e cobrança.”
“O grande risco da transição é permitir que a inclusão de IBS e CBS na base de ICMS e ISS durante o período temporário recrie o problema que a Reforma prometeu resolver. Transparência exige coerência conceitual: se a Constituição pede visibilidade, não faz sentido esconder tributo dentro de tributo.”
— Thiago Leite, L4 Taxx
Cálculo por dentro x cálculo por fora: diferença crucial
| Modelo | Como funciona | Impacto na transparência |
|---|---|---|
| Por fora | Preço + tributo destacado | Alto – contribuinte vê o imposto no documento |
| Por dentro | O tributo já está embutido no preço | Baixo – imposto fica invisível ao contribuinte |
| Tributo sobre tributo | Um tributo compõe a base de outro | Reduz a clareza e gera distorções |
O que ameaça a transparência durante a transição do novo sistema
A transição prevê coexistência entre IBS/CBS e ICMS/ISS. Sem proibição expressa, Estados e Municípios podem tentar incluir IBS e CBS em suas bases, recriando a lógica opaca atual.
Além disso, o Imposto Seletivo (IS) permanece com cálculo por dentro, apagando parte da visibilidade conquistada.
Exemplos práticos
Exemplo 1 – O problema do tributo invisível
- Produto na prateleira: R$ 100
- Alíquota nominal: 18%
Na prática: o consumidor paga R$ 121,95 — mas acredita pagar R$ 118.
Exemplo 2 – O modelo transparente
- Preço real: R$ 100
- Tributo (por fora): R$ 18
Tributo destacado = tributo controlável pelo cidadão e pelo setor produtivo.
FAQ – principais dúvidas sobre transparência tributária e cálculo por dentro
Por que o cálculo por dentro reduz transparência?
Porque o tributo fica embutido no preço e o consumidor não consegue ver o quanto realmente paga.
A Reforma Tributária elimina totalmente esse problema?
Para IBS e CBS, sim. Mas o Imposto Seletivo continuará por dentro.
Os Estados podem incluir IBS e CBS na base do ICMS?
Durante a transição, há risco — e isso ameaça o princípio constitucional da transparência.
Por que o STF antes permitia o cálculo por dentro?
Porque a Constituição, antes da EC 132, não proibiu expressamente a técnica.
A transparência melhora governança fiscal?
Sim. Tributo visível permite controle social e reduz distorções de preços.
Tributo sobre tributo é inconstitucional?
Depende. A resposta deve seguir a materialidade constitucional de cada tributo.
Como fica a cobrança na prática para o consumidor?
Com IBS e CBS, o consumidor verá o tributo destacado, aumentando previsibilidade e clareza.
Conclusão – a Reforma precisa cumprir a promessa da transparência
A transparência não é detalhe técnico: é pilar de cidadania fiscal. Se o tributo se esconde, o sistema perde legitimidade. Se ele se revela, a sociedade ganha controle e previsibilidade.
A EC 132/2023 deu o primeiro passo. Agora, cabe ao legislador, aos Estados e ao Congresso impedir retrocessos que transformem o novo texto tributário em um novo subtexto.
Como a L4 Taxx pode apoiar sua empresa
A L4 Taxx atua na interseção entre estratégia, governança e inteligência fiscal, apoiando empresas na adaptação às novas regras da Reforma Tributária.
Mapeamento e impacto da transparência tributária
- Análise do impacto da cobrança por fora em preços, margens e contratos;
- Simulações considerando cenários de transição e regras regionais;
- Estudos sobre tributo sobre tributo e reflexos na cadeia.
Governança contábil e fiscal no novo sistema
- Revisão técnica de documentos fiscais e parametrizações;
- Conformidade com IBS, CBS e Imposto Seletivo;
- Estruturação de políticas internas de transparência tributária.
Planejamento tributário estratégico
- Redesenho de precificação para modelo por fora;
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Diagnóstico estratégico tributário L4 Taxx
A L4 Taxx apoia empresas na transição para o novo modelo tributário, identificando riscos, oportunidades e ajustes necessários para garantir conformidade, eficiência e transparência real.

