A reforma tributária inaugura uma nova lógica de apuração, conformidade e gestão fiscal no Brasil. Porém, enquanto o país atravessa a maior transformação fiscal em décadas, muitas empresas ainda tratam o planejamento estratégico como uma etapa secundária — ignorando dados, estudos e alertas produzidos ao longo da transição.
Por Thiago Leite — Especialista em Inteligência Tributária e Sócio da L4 Taxx.
O risco invisível: empresas estão subestimando a transição
A reforma tributária não é apenas uma mudança de alíquotas — é uma mudança estrutural no modelo de formação de preço, cadeia de créditos, governança fiscal e estrutura operacional. Mesmo assim, muitas organizações continuam operando como se ainda houvesse tempo para se adaptar.
A consequência? Riscos silenciosos, acumulados e muitas vezes irreversíveis, incluindo:
- Aumento de carga sem percepção prévia;
- Glosas de créditos pela falta de documentação íntegra;
- Perda de competitividade na transição do regime atual para IBS/CBS;
- Modelos de negócio que deixam de ser viáveis por falta de revisão estratégica.
Análise técnica – Thiago Leite
“O maior erro das empresas hoje não é desconhecer a reforma — é subestimar a velocidade com que suas premissas financeiras, fiscais e operacionais vão se tornar obsoletas. A reforma não será um evento; será um processo contínuo, que exige revisão estratégica imediata.”
“Muitas empresas ainda acreditam que só enfrentarão mudanças quando o IBS e a CBS estiverem plenamente implementados. Mas a verdade é que as decisões relevantes — sobre precificação, compliance, cadeia de suprimentos e estrutura societária — precisam ser tomadas agora, porque irão determinar a competitividade nos próximos três anos.”
— Thiago Leite, L4 Taxx
Por que o planejamento estratégico é indispensável na reforma
A reforma tributária muda a natureza do sistema: deixa de olhar para tributos isolados e passa a analisar a cadeia completa de valor. Isso exige um reposicionamento imediato das empresas, especialmente em quatro dimensões:
| Dimensão | Risco de ignorar | Benefício do planejamento |
|---|---|---|
| Tributação | Aumento imprevisto da carga por mudanças de base e créditos. | Cenários projetados com precisão e otimização fiscal contínua. |
| Operações | Fluxos de compra e venda incompatíveis com IBS/CBS. | Cadeias ajustadas para melhor aproveitamento de créditos. |
| Compliance | Documentação incapaz de sustentar créditos futuros. | Governança fiscal ajustada ao novo ambiente. |
| Estratégia | Modelos de negócio defasados ou inviáveis no novo regime. | Reposicionamento competitivo com base nos novos incentivos. |
O que as empresas mais estão ignorando — e não deveriam
Do ponto de vista prático, três alertas se destacam no comportamento atual das empresas:
Elas subestimam o impacto da CBS
A CBS terá impacto imediato sobre margens, custos operacionais e cadeia de compras, afetando especialmente:
- Serviços;
- Varejo;
- Tecnologia;
- Setores com baixa dedutibilidade.
Elas não estão revisando contratos
Contratos sem cláusulas de recomposição tributária podem gerar perdas relevantes.
Elas não estão mapeando riscos de crédito
Créditos não aproveitados hoje serão ainda mais críticos no modelo não cumulativo pleno.
FAQ – principais dúvidas sobre planejamento estratégico na reforma
O planejamento é obrigatório para todas as empresas?
Não é obrigatório por lei, mas é indispensável para evitar aumento de carga e perda de competitividade.
A reforma aumenta a carga tributária?
Depende do setor e do modelo de negócios. Para muitos serviços, há tendência de alta.
Preciso revisar minha cadeia de fornecedores?
Sim. O IBS/CBS valoriza cadeias documentadas e penaliza informalidade.
Empresas do Simples serão impactadas?
Sim, especialmente quando operam com substituição tributária ou vendem para empresas no regime normal.
É necessário revisar sistemas e ERPs?
Sim. O novo modelo exige integração fiscal mais robusta e rastreabilidade plena.
A CBS muda a apuração mensal?
Sim, e com impacto direto em margem, precificação e capital de giro.
Quando devo começar o planejamento?
Imediatamente. As decisões estratégicas de 2025 definem o posicionamento até 2030.
Conclusão – ignorar planejamento tributário agora é perder competitividade
A reforma tributária não é um risco futuro — é uma realidade em curso. Empresas que não se prepararem agora enfrentarão:
- Aumento imprevisto de carga;
- Perda de créditos;
- Ineficiências operacionais;
- Perda de competitividade na transição.
Por outro lado, quem agir rápido pode transformar a reforma em um vetor de eficiência, governança e vantagem estratégica.
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